Painel sobre o envelhecimento do negro é ponto alto em fórum sobre a longevidade
Desfechos patológicos podem ter raízes em condições socioeconômicas desfavoráveis, diz especialista
Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro
Na quinta-feira passada, tive o prazer de participar de um debate no VI Fórum Internacional da Longevidade, mais uma iniciativa do incansável Alexandre Kalache, uma das maiores autoridades do país sobre o tema e idealizador do evento. O ponto alto do dia foi o painel sobre gênero, raça e desigualdades, dedicado ao envelhecimento dos negros brasileiros. Os três palestrantes também eram negros: a escritora Lia Vieira, a assistente social Marília Berzins, doutora em saúde pública e presidente do OLHE (Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento), e Alexandre da Silva, professor-adjunto da Faculdade de Medicina de Jundiaí.
Alexandre da Silva, doutor em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo) — Foto: Mariza Tavares
Doutor em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo), o fisioterapeuta Alexandre da Silva trabalhou, em sua tese de doutorado, com a hipótese de que há diferenças na prevalência de incapacidades funcionais entre idosos de diferentes estratos raciais. Trocando em miúdos: o chamado envelhecimento ativo não está ao alcance de todos – principalmente para quem é negro e pobre. Ele alertou para o volume de desfechos patológicos que têm raízes em condições socioeconômicas desfavoráveis. “A desvantagem do negro começa na dificuldade que a mulher tem de fazer pré-natal e passa pelo enfrentamento da violência na infância e na juventude. Nos bairros periféricos de São Paulo, não se envelhece. O mais grave é que faltam informações sobre raça nos bancos de dados. Essa omissão mascara a realidade”, afirmou.
Marília Berzins lembrou que a mulher negra é a que se encontra em condições mais desfavoráveis quando envelhece, porque sofre com o machismo, o racismo e a gerontofobia. “A exclusão vai se agravando com a idade”, ressaltou, “tanto que, que nas instituições de longa permanência, a maior parte é constituída por mulheres pardas ou pretas”. Lia Siqueira foi impactante em sua fala: “eu sou de uma comunidade que veio para cá aprisionada num porão de navio. É uma superação estar aqui, num auditório lotado”. Autora de “Só as mulheres sangram”, fez um tributo às africanas: “eram elas que benziam e curavam, deixando uma memória profunda”. Sobre a mulher negra, resumiu: “essa é uma história de silêncios seculares que ainda não foi contada”. Também se trata de uma missão que cabe a nós, sem exceção, porque o envelhecimento tem que ser um direito de todos.
Fonte: G1 - https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2018/11/29/painel-sobre-o-envelhecimento-do-negro-e-ponto-alto-em-forum-sobre-a-longevidade.ghtml